Manguezais brasileiros têm potencial para gerar R$ 49 bilhões em créditos de carbono

Estudo apresentado na COP16 indica que conservação e recuperação dos mangues podem ser valiosos aliados na redução de emissões de carbono

Estudo revela que manguezais brasileiros podem gerar R$ 49 bilhões em créditos de carbono

Um estudo inédito apresentado na COP16 revelou que os manguezais do Brasil podem gerar até R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono. O levantamento, conduzido pelo Projeto Cazul com apoio da Fundação Grupo Boticário, identificou 1,3 milhão de hectares de manguezais ao longo da costa brasileira, área que abriga uma vasta biodiversidade e que possui uma capacidade singular de absorção de dióxido de carbono.

Valor do carbono azul dos manguezais

Os manguezais são conhecidos por sua alta capacidade de sequestrar carbono, processo que ocorre nas raízes, folhas e galhos da vegetação. De acordo com o estudo, os manguezais possuem uma eficiência de armazenamento de três a cinco vezes maior do que as florestas terrestres. Isso os torna especialmente valiosos no mercado de carbono, onde a tonelada de CO₂ é comercializada para compensar emissões.

A pesquisa aponta que, caso o mercado regulado de carbono seja implementado no Brasil, o valor dos créditos gerados pelos manguezais pode chegar a R$ 1,067 trilhão, considerando uma cotação de R$ 562 (US$ 100) por tonelada de CO₂. No mercado voluntário, onde empresas compram créditos por iniciativa própria, a média de valor por tonelada no Brasil ainda é baixa, cerca de R$ 25,85, o que limita o retorno financeiro para projetos de conservação como o dos manguezais.

Comunidades locais e impacto social

Para as comunidades tradicionais que vivem dos mangues, como pescadores e marisqueiras, o mercado de carbono representa uma possível fonte de renda. Alaildo Malafaia, presidente da cooperativa Manguezal Fluminense, destacou que receber esses recursos seria um sonho: “Uma esperança de qualidade de vida para todos nós”. A cooperativa, formada por 32 pescadores e que atende cerca de 3 mil pessoas, já atua na restauração de áreas degradadas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

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Pedro Belga, fundador da ONG Guardiões do Mar, ressalta a importância de direcionar os recursos para quem está na linha de frente:

“Hoje se fala muito sobre o mercado de carbono, mas essa renda ainda não chega na ponta, onde está quem realmente preserva os mangues.”

Passo estratégico para o Brasil no mercado de carbono

O Brasil, com a segunda maior área de manguezais do mundo, detém um potencial significativo no mercado de créditos de carbono. Estados como Pará, Maranhão e Amapá, que possuem as maiores áreas de mangue, poderiam alcançar lucros superiores a R$ 300 bilhões. Já Alagoas, onde o projeto Nosso Mangue trabalha na recuperação dos mangues em Maceió, teria um potencial de R$ 213 milhões.

O projeto Nosso Mangue, liderado pela empreendedora social Mayris Nascimento, busca gerar o primeiro crédito de carbono de manguezal do país. Em novembro, a organização abrirá uma rodada de investimentos para captar recursos, visando criar uma base sólida para os créditos de carbono.

Com o aumento do reconhecimento sobre o valor dos manguezais e sua capacidade de capturar carbono, o estudo destaca o Brasil como um ator essencial no combate às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que oferece oportunidades de desenvolvimento sustentável para as comunidades costeiras.

Veja mais sobre o projeto Nosso Mangue: